Buquê de flores
(Delman Ferreira) — Você não me assume. Tem vergonha de mim? É por causa da minha cor? Por que sou pobre e trabalho atrás desse balcão? Vozerio alto. Música ao vivo. Gente circulando. Gente rindo. Gente que pede mais um chopp. O mundo inteiro parecia falar ao mesmo tempo. Caixa de pedidos. Pilha de garrafas. Por trás do caos, duas vozes nervosas tentam se entender. — Montanha de copos. Não consigo te escutar — Fernando tenta brincar para aliviar. — Nunca vamos juntos a lugar algum. Só pode ser por vergonha. Eu assusto as pessoas? — Não é assim, você sabe. — Afastando uma garrafa, Fernando tenta alcançar-lhe o rosto e fazer um carinho, prender uma mecha de cabelo rebelde. — Eu queria só um cinema, um passeio, um café na rua. Fernando tenta se explicar, por trás das garrafas, dos copos, das vozes. — Tudo a seu tempo. Eu te prometo que vamos passear muito, viajar, conhecer o mundo. Me dá um tempo. — Eu sei que tu também sonhas com isso. Assistir a uma s...