O vírus letral
(Delman Ferreira) Brisal já fora uma terra vibrante. Havia cafés literários, feiras de poesia, histórias contadas nas praças ao cair da noite, crianças embaladas à voz de histórias. Ninguém sabe dizer quando os livros começaram a pesar. Primeiro veio o gracejo. — Ler dá sono. Depois, a piada recorrente. — Poeta é quem não tem o que fazer. O riso, aos poucos, perdeu a inocência. Quem andava com um livro debaixo do braço virou alvo. — Olhem o cabeça de papel! — Vai tropeçar no mundo real! As páginas empoeiraram. Livros tornaram-se estorvo. Os jovens, hipnotizados por telas fugazes, diziam não ter tempo para ler. As mochilas se esvaziaram de histórias. A interpretação deu lugar às respostas prontas. Professores que insistiam na leitura passaram a ser tratados como perdedores, relíquias inúteis. Memes substituíram textos. Ditados pobres ocuparam o lugar da complexidade. Em uma geração, a leitura tornou-se obsoleta. A escrita, um conj...