Amo o amor dos marinheiros
amo o amor dos
marinheiros
que amam e se
vão
(Pablo Neruda)
Beija como se o mundo fosse acabar no próximo porto.
Navega entre os continentes como quem dança entre sonhos — leve, sorridente e sempre de partida. A voz tem o timbre das ondas. Riso fácil dos que sabem partir antes que seja tarde.
Ama as mulheres — negras, brancas, amarelas, morenas, ruivas, loiras, mestiças — com a mesma febre breve de quem não pensa fincar âncora. Parte como se nunca tivesse chegado. Em cada recanto portuário, cada enseada esquecida pelo mapa, deixa atrás de si uma história interrompida à espera de novo tempo e nova vida.
Ciganos, negros, indígenas, asiáticos, eslavos. Olhos puxados, cabelos crespos, pele clara, sotaques diversos. Os filhos são tantos, tão múltiplos, impossível saber quantos. Não os cria, mas exige amor incondicional. Deu-lhes a vida, devem ser gratos.
O nome de batismo é Javier. Mas em cada porto empresta seu corpo a identidades fluidas. Um artesão de momentos. Não mente, apenas deixa cada mulher ler nele os próprios delírios. Seus olhos, envelhecidos pelo sal, refletem os anseios de cada alma — o aventureiro, o fugitivo, o amante, o pai eterno.
A cada escala, das noites em que os corpos falam a língua universal do desejo, brota seu legado silencioso: filhos e filhas, portando o fardo do pecado original.
Por rios e mares, das pontes de navios, governa a pátria espiritual. Seu tributo é uma exigência poética — e egoísta: o amor incondicional.
— O mar canta meu nome. Meus filhos e filhas vão me amar como se ama o horizonte — sempre à vista, nunca ao alcance.
Assim segue o marinheiro de mil nomes, a exigir amor puro e cruel. Ele é a memória de uma brisa quente, o cheiro de sal e aventura, o castigo, a promessa de retorno jamais cumprida. Mantém os corações de seus filhos acorrentados, não ao homem, mas ao mito salgado de um pai que ama e se vai.
Ama as mulheres — negras, brancas, amarelas, morenas, ruivas, loiras, mestiças — com a mesma febre breve de quem não pensa fincar âncora. Parte como se nunca tivesse chegado. Em cada recanto portuário, cada enseada esquecida pelo mapa, deixa atrás de si uma história interrompida à espera de novo tempo e nova vida.
Ciganos, negros, indígenas, asiáticos, eslavos. Olhos puxados, cabelos crespos, pele clara, sotaques diversos. Os filhos são tantos, tão múltiplos, impossível saber quantos. Não os cria, mas exige amor incondicional. Deu-lhes a vida, devem ser gratos.
O nome de batismo é Javier. Mas em cada porto empresta seu corpo a identidades fluidas. Um artesão de momentos. Não mente, apenas deixa cada mulher ler nele os próprios delírios. Seus olhos, envelhecidos pelo sal, refletem os anseios de cada alma — o aventureiro, o fugitivo, o amante, o pai eterno.
A cada escala, das noites em que os corpos falam a língua universal do desejo, brota seu legado silencioso: filhos e filhas, portando o fardo do pecado original.
Por rios e mares, das pontes de navios, governa a pátria espiritual. Seu tributo é uma exigência poética — e egoísta: o amor incondicional.
— O mar canta meu nome. Meus filhos e filhas vão me amar como se ama o horizonte — sempre à vista, nunca ao alcance.
Assim segue o marinheiro de mil nomes, a exigir amor puro e cruel. Ele é a memória de uma brisa quente, o cheiro de sal e aventura, o castigo, a promessa de retorno jamais cumprida. Mantém os corações de seus filhos acorrentados, não ao homem, mas ao mito salgado de um pai que ama e se vai.
(Delman Ferreira)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO marinheiro e seus devaneios?
ResponderExcluirDevaneios nerudianos
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