Buquê de flores
(Delman Ferreira)
—
Você não me assume. Tem vergonha de mim? É por causa da minha cor? Por que sou pobre
e trabalho atrás desse balcão?
Vozerio
alto. Música ao vivo. Gente circulando. Gente rindo. Gente que pede mais
um chopp. O mundo inteiro parecia falar ao mesmo
tempo.
Caixa
de pedidos. Pilha de garrafas. Por trás do caos, duas vozes nervosas
tentam se entender.
—
Montanha de copos. Não consigo te escutar — Fernando tenta brincar para
aliviar.
—
Nunca vamos juntos a lugar algum. Só pode ser por vergonha. Eu assusto as
pessoas?
— Não
é assim, você sabe. — Afastando uma garrafa, Fernando tenta alcançar-lhe o
rosto e fazer um carinho, prender uma mecha de cabelo rebelde.
— Eu
queria só um cinema, um passeio, um café na rua.
Fernando
tenta se explicar, por trás das garrafas, dos copos, das vozes.
—
Tudo a seu tempo. Eu te prometo que vamos passear muito, viajar, conhecer o
mundo. Me dá um tempo.
— Eu sei que tu também sonhas com isso. Assistir a uma série de
terror segurando minha mão. Acordar e fazer o café juntos.
Olham-se
nos olhos.
—
Isso é o que mais quero.
— Vou
te dizer mais, esse desejo reprimido te faz muito mal. Tua vontade é escancarar
para o mundo.
—
Acredita em mim, já já vamos fazer tudo isso.
— Não
me sinto bem te pressionando. Te faço mal e fico mal. Não quero isso para mim.
Acho melhor a gente se separar enquanto tu resolves, se é que vais resolver um
dia. — Falava para si mesmo, sabia que o vozerio do bar impedia Fernando de
ouvir.
Dias
sem se ver.
O
bar, agora, parecia vazio, sem brilho, sem sentido.
Angústia.
Dúvida. Desesperança. Será que Fernando ouviu? Será que levou a sério? Será que
nunca mais volta?
Abre-se
a porta do bar.
Entra
Fernando acompanhado por três pessoas.
— Quero te apresentar minha mãe, meu pai e minha avó.
Apresenta
os três como quem oferece um buquê de flores.
—
Esse é Yago, o amor de minha vida.
Lindo 🥰
ResponderExcluirMuito bom
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