Um Corpo Nu
De repente, todos os olhos se fixam em mim. Mas não fiz nada além de existir como a natureza me moldou. Pés descalços, corpo nu, pele beijada pelo sol e pelo vento. Assim vivi desde sempre. — Você deve adorar a Deus — dizem, ajoelhando-se diante de paus cruzados e palavras severas. — Você deve servir ao rei — insistem, empunhando bandeiras que tremulam no vazio. Ouço, mas não compreendo. Por que me curvar diante de quem nunca vi? Por que falar com o céu, se a terra me responde com frutos, os rios com peixes, a chuva com água fresca e a lua me guia em silêncio? — Você não pode andar nu — repetem, olhos inquietos. Tentam cobrir meu corpo com trapos ásperos, como se quisessem me vestir de culpa. Nunca soube o que era pecado até dizerem que meu corpo ofende. Respeitei a natureza como mãe, casa, companheira. Comi quando tive fome, bebi quando tive sede, dormi com os animais. Nenhum deles exigiu mais que presença e cuidado. Agora, querem me pôr entre paredes que abafam o canto dos pássaros. ...